Vigésimo Segundo Domingo do T.C - Ano A
1ª leitura: Jer 20,7-9;;
Sal: 62;;
2ª leitura: Rm. 12,1-2;
Evangelho: Mt 16:21-27
Deus é nosso Pai, Somos todos irmãos!!
Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo...
Irmãos e irmãs, comunidade cristã!!
Mais uma vez, depois de oito dias estamos aqui para partilhar os mistérios da nossa fé… Na liturgia de hoje a sugestão é que seguir Cristo significa também através do sofrimento e da morte. As leituras da liturgia de hoje oferecem-nos uma proposta clara: por um lado, a verdadeira identidade de Deus, a sua lógica, que é a lógica de um dom que pressupõe morrer por Amor, o fogo que arde na nossa alma, por outro a lógica do mundo. Pedem-nos uma conversão a Cristo, ao nível da vida concreta. Depois de ter acolhido um primeiro apelo a segui-lo, aderindo com alegria e plena disponibilidade, pede-nos uma “segunda conversão” feita de pequenas conversões quotidianas, não porque Deus esteja longe e inalcançável, mas porque o homem pode gradualmente chegar a Deus.
Não se pode ser fiel à Palavra de Deus sem sofrer mal-entendidos e contradições. Foi o drama de Jeremias (primeira leitura). O profeta Jeremias nos ensina o caminho: passa de não querer mais falar em nome do Senhor, porque isso lhe causou repetidas perseguições e humilhações, mas depois considera essencial continuar na sua missão, porque sente a necessidade e percebe que o próprio Senhor lhe dá os meios e o instrui, dando-lhe todo tipo de habilidade e coragem. O profeta abre-nos a sua alma e assim conhecemos os seus sofrimentos íntimos, as desilusões, as crises de um autêntico homem de fé. Esta é uma oração, não apenas uma saída. O profeta experimenta a marginalização dos homens e, o que é mais chocante, o “silêncio de Deus”. Ele gostaria de encontrar um clima de simpatia e, em vez disso, Deus o chama a proclamar uma palavra que suscita dis****s e divisões. "seduziu-me, Senhor, e eu me deixei seduzir. Tornei-me objeto de ridículo todos os dias. Todos zombam de mim." Suas resoluções de abandonar o compromisso são o sinal de sua perplexidade momentânea. Nestes momentos de desânimo, o profeta precisa da compreensão pelo menos do seu Deus, mas a resposta é (ou parece ser) o silêncio e a solidão. Como todos os profetas, Jeremias viveu profundamente, mesmo no sofrimento, no abandono e na rejeição, o milagre de uma esperança indestrutível e de uma serenidade inexplicável. Temos que nos deixar seduzir por Deus, mas muitas vezes acontece o contrário. Quantas vezes em nossas orações tentamos ter Deus ao nosso lado tentando fazer com que Ele faça o que queremos, porque achamos que é a única coisa certa?
São Paulo, na sua carta aos Romanos, nos adverte, lembrando-nos que para seguir Jesus é necessário seguir a sua advertência: «Não vos conformeis com este mundo, mas deixai-vos transformar, renovando o vosso modo de viver. pensando, para poder discernir a vontade de Deus, que lhe é boa, agradável e perfeita”. Deus considera-nos capazes de doar a nossa vida e por isso pede-nos que assumamos a mentalidade de quem não está satisfeito, de quem não brinca com a poupança, de quem não calcula. O convite, não é conformar-se com este mundo, mas deixar-se transformar, renovando o modo de pensar, para poder discernir o que é bom e agradável a Deus, para negar tudo o que é a negação da vida autêntica
Por fim o santo Evangelho que lemos pressupõe o do domingo passado. Recordemos a profissão de fé de Pedro: “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo”. A página de hoje nos ajuda a compreender que uma resposta teologicamente correcta pode ser dada, mas que não entra no coração da fé. Na verdade, a resposta de Pedro é teologicamente correta, mas diante das perspectivas de vida indicadas por Jesus (sofrimento e morte) a fé revela a sua fragilidade, a ponto de merecer uma das censuras mais duras: «Vai atrás de mim, Satanás! és um escândalo para mim, porque não pensa segundo Deus, mas segundo os homens!». A lógica de Pedro colide com a de Jesus que é a do serviço mesmo à custa do sofrimento.
Jesus nos diz: “Quem quiser me seguir, negue-se a si mesmo, tome todos os dias a sua cruz e siga-me”, ou seja, se quisermos ser seus discípulos, se quisermos aprender a amar como Ele nos amou, devemos sermos capazes de dizer não, parar de pensar em nós mesmos, esperar que as coisas corram de acordo com nossos planos. Jesus nos ensina a amar e ninguém pode amar de verdade se não souber dizer não ao seu próprio egoísmo. Ser discípulos de Jesus, ou seja, segui-lo, significa tirar a vida e negá-la, ou seja, não colocá-la no centro de tudo, mas deixar que Deus nos guie. Jesus diz-nos também para tomarmos a nossa cruz, o que não significa, como muitas vezes nos ouvimos dizer, submeter-nos passivamente às situações de dificuldade, de dor que a vida nos confronta, mas é um convite a saber fazer valer a sua capacidade. a nossa. amar até ao fim, ser capazes, como nos recordou São Paulo, de saber discernir a vontade de Deus.
Ser discípulos de Cristo envolve movimentos existenciais essenciais: “negar-se”, o que não significa mortificar-se, aniquilar-se ou não reconhecer os próprios talentos, mas colocar Deus como referência total, segurança, única salvação. Significa ser livre de si mesmo para transbordar para os outros, fazendo da própria vida um dom; O segundo movimento do discipulado é “tomar a tua cruz e seguir Jesus”, que implica a escolha de assumir a responsabilidade pelo que acontece na vida, deixando de sofrer as coisas e enfrentando, sem mais vitimização, principalmente aquelas que acontecem e que não escolhemos. A Cruz, no Evangelho, é a vida e a história de Jesus, a cruz como orgulho, como sinal de esperança, como revelação máxima do poder de Deus,
Cada cristão é chamado a responder a este amor supremo, mantendo o olhar fixo no crucifixo: através de uma mudança radical que o reconduza aos passos do seu orgulho e da sua presunção; deixar-se guiar docilmente pelo Espírito de vida e perseverar na escuta amorosa da Palavra. Viver, em suma, uma fé profunda, interiorizada a ponto de envolver toda a existência e toda a vida. E seguir significa vincular-se a Ele na sua paixão, viver plenamente, perder para encontrar, dar para ser.
Exercício da semana: Qual é a nossa reacção ao “silêncio de Deus” e como podemos vivê-lo na nossa vida?
Um abraço e estamos juntos…
Ir. Pe. Alberto Sissimo, psdp