“SUBPOESIA”: UMA BREVE LEITURA DO POEMA DE JOSÉ LUÍS MENDONÇA
O escritor como produto do meio social reflecte sempre o seu contexto dentro da sua criação artistica por mais que não haja intencionalidade do autor ou por mais involuntário que se pretenda ser ao escrever uma obra. Esta ideia simples é corroborada por Ezra Pound quando declara que “os artistas são como antenas de suas épocas. Eles captam os acontecimentos de suas épocas e os reflectem em suas obras”.
Em vista disso, partimos do prefixo “sub” que do latim (sub) significa “por baixo”, a poesia de José Luís Mendonça que se afigura “subpoesia”, remete-nos à inferioridade do continente africano, particularmente, África subsaariana, no mapa geopolitíco mundial. Antes de olharmos para o poema em questão, abrimos um parênteses e trazer a memória que o continente africano permaneceu, durante muito tempo, servindo como fonte de exploração por parte do Ocidente, quer dizer, mediante essa exploração os africanos passaram a atender os interesses do Ocidente. E mesmo com a conquista da conquista da independêcia, a sucessão de guerras fratecidas e étnicas em várias latitudes do continente não deu uma resposta posetiva aos diversos problemas políticos, sociais e económicos.
Dada a sucessão de factos, a maioria dos países africanos atrasaram o seu desenvolvimento, e na actualidade é visto como um continente sem expressão como um continente com políticas fracassadas em todos os dominios. O sujeito poético no segundo e terceiro vesro da primeira esfrofe revelam o problema da subvalorização da África Subsaariana: “sujeitos subentendidos-/subespécies do submundo”.
África Subsaariana é uma das regiões mais pobres do mundo, um contraste que não encontra razão de ser, pois é grande produtor e exportador de produtos oriundos da produção agrícola, no entanto não consegue alimentar sua população, apresentando um elevadíssimo número de subnutridos, isso lhe dá a condição de pior do mundo nesse aspecto, a presença da fome, constantes epidemias e, consequente mortes, é uma realidade que aumenta a cada dia, pelo que, não passou despercebido pelo sujeito poético, olhando para a segunda estrofe do nosso texto em análise: “subalimentados somos/surtos de subepidemias/sumariamente submortos”
Muitos problemas recorrentes nesta região é incitada, as políticas económicas fracassadas, depreciação da moeda, alguns até com forte intervenção de terceiros.
Ao olharmos para a última estrofe do poema, notamos que, mesmo com a independência muitos países africanos continuam dependentes a servir os interesses de outrem, como uma éspecie de escravatura moderna que passa percebido pelo olhar ignorante das autoridades como se pode ler na estrofe a seguir: “do subdólar somos/subdesenvolvidos assuntos/de um sul subserviente”.
A poesia de Mendonça, revelou-nos, por um lado os problemas estruturais gerados pelos graves legados do colonialismo, do neocolonialismo, dos conflitos étnicos e da instabilidade política e, que os africanas foram levadas à ruína pelos seus próprios dirigentes políticos.
Toda sociedade que não consegue encontrar a utilidade da literatura é, sem dúvidas, uma sociedade intelectualmente falhada. Porque o grau de intelectualidade de uma sociedade mede-se pelos que os seus escritores escrevem e como os leitores e os transdutores ou intérpretes interpretam em diversos contextos.